Ele ia fazer 9 anos. Monty passou, da criança mais feliz, que acordava antes do nascer do sol para me falar o quão lindo seria o dia, para uma criança completamente deprimida. Ele estava bravo, nervoso, muitas vezes até violento com os seus irmãos mais novos. Ele parou de querer brincar lá fora e dizia, constantemente não ver sentido na vida.
Eu fiquei preocupada, muito preocupada. Eu me senti uma mãe horrível para o meu filho. Eu sabia que alguma coisa estava errada mas eu não sabia o que era nem o que fazer. Ficou tão difícil que meu marido, Chris e eu decidimos procurar ajuda profissional antes que tudo ficasse ainda pior.
Um dia eu eu Chris saímos e decidimos trazer para casa alguns tacos de hockey de surpresa para as crianças. A gente pegou um para o Monty, um para Hayden e outro para a Charlotte. Hayden ficou muito feliz! Ele mal podia esperar para ir lá no quintal, até pareceu que o Monty ficou animado para brincar com ele, tipo 30 segundos de um milagre.
Fomos ingênuos. De repente Hayden apareceu chorando e Monty subindo as escadas, em direção ao seu quarto, batendo os pés gritando que não iria mais brincar lá fora. Acalmamos Hayden e as outras crianças foram brincar nos deixando sozinhos para conversar com o Monty.
A conversa parecia estar caminhando como sempre com Monty, ele gritando, nervoso dizendo que odiava brincar lá fora e que jamais faria isso de novo. Mas, de repente, algo mudou: Monty gritou que ele odiava hockey e que não iria mais jogar. Eu então perguntei o que ele odiava no hockey, e as palavras que ele usou aquele dia ecoam no meu ouvido até hoje. Ela começou a chorar e gritou: “Hockey é de menino e eu sou uma menina!”
Apesar de discordar completamente que hockey é uma brincadeira de menino, aquele não era o momento para aquela conversa. Então nós só ficamos ao lado dela enquanto ela chorava.
No fundo eu não estava surpresa, eu sempre soube. Quando era menor, Monty adorava brincar e se vestir com as roupas de princesa da Kailey e da Hannah e, ao invés de dizer: “quando eu crescer”, ele dizia: “quando eu for menina”
Eu fiz a única coisa que eu pude naquele momento. A única coisa que eu sempre farei, independente da situação: eu abracei Monty bem forte e disse a ela: “Eu te amo e você pode ser quem quiser”.
Nossa relação em casa é bem mais agradável, Monty hoje tem 12 anos, ela está sob os cuidados de um médico maravilhoso que comanda o programa de Transgêneros do Sick Kids (referência de hospital infantil em Toronto). Ela está 100% acomodada como menina na escola e recentemente começou o o tratamento com hormônios. Mas mais importante de tudo: Monty está feliz e segura de quem ela é.
Texto da minha amiga maravilhosa que aceitou me contar a história de sua filha Monty. Link para o texto original: https://greightfullife.net/2017/05/23/that-time-monty-came-out/